terça-feira, 27 de março de 2012

Pedro e Inês


A versão portuguesa de "Romeu e Julieta": A história de Inês de Castro. Uma história de amor enraizada na nossa História, retomada na literatura de forma singular.
A última versão remete-nos para o texto de Miguel Jesus Inês morre. Uma perspetiva diferente, audaciosa interpretada pelo Teatro "O Bando" de forma genuína. Tive a sorte de ter uma amiga como a Verónica que me desafiou para uma das sessões no Centro Cultural de Belém, em junho de 2011. Juntas assistimos a uma peça com um elenco fenomenal onde a sensualidade, o humor, a poesia, o horror se misturam...
Este espetáculo integrou as comemorações da trasladação de D. Inês de Castro de Coimbra para Alcobaça e esteve presente no TMG em Maio de 2011.

O primeiro poema...

Relembro uma aula de Língua Portuguesa do 9º ano. Em 93? 94? Inconscientemente este dia ficou gravado na minha memória. Um grupo de colegas e amigos apresentaram à turma um poeta: Eugénio de Andrade, um poema: Adeus. Tenho a certeza que o Daniel e a Regina faziam parte do grupo. A eles lhes devo o primeiro grande poema... com ele despertei para a poesia.


Adeus


Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mão à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.