quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Uma estrada


Já o disse tantas vezes e ainda assim não me canso de o dizer: na falta de cumprir determinados objetivos alcançam-se outros.
Vivo bem perto da Serra da Estrela. Trago comigo os genes de gerações que calcorrearam os montes e vales desta preciosidade do interior de Portugal.
É a casa dos meus avós situada no coração da serra que me leva ao encontro com esta natureza. Levo a minha melhor companheira de sempre e juntas traçamos um percurso: Loriga-Torre-Guarda.

Quarta-feira de manhã, um belo dia de sol. Saio de Loriga a pedalar. Até à Portela de Arão, passo por dois grupos de seniores que sabem aproveitar tanto o tempo como a beleza matinal para colocar a conversa em dia, ou talvez não...

Um "bom dia" desperta-lhes a atenção. Afinal nunca caminhamos sozinhos, há sempre quem nos acompanha de maneira diferente e quando menos esperamos mostra-se. Continuo o meu caminho, a minha estrada. Comigo levo sempre a minha família, os meus amigos, aqueles com quem estive recentemente, aqueles que espero reencontrar, aqueles de quem tenho saudades... e nisto as minhas pernas começam a fraquejar. Olho em frente, para o cimo da serra, para o ponto que justamente terei de atravessar... será melhor continuar a refletir olhando para a estrada, para os lados, para a beleza da serra, aproveitar bem o caminho, como se fosse a primeira e a última vez.

De repente... "Conseguirei chegar? Coragem... estou apenas a começar :)".



Faço a primeira paragem. Não tenho noção de que ainda estou apenas a meio... olho para o percurso já feito. Olho para trás, mas não quero mudar nenhum segundo do que fiz. Poderia ter gerido o esforço de outra maneira? Sim, mas a ansiedade não permitiu. Poderia esperar por outra preparação física para subir mais facilmente? Sim, mas achei que era o momento certo para o fazer. Cometer erros é aprender. E, afinal, as condições climatéricas estão a ajudar. Não me arrependo. Afinal olhar para trás, traz-me mais força para olhar novamente até ao cimo da serra. A estrada é sinuosa, por vezes difícil, por vezes fácil. Depois de superados, olho para os obstáculos com outro valor.

Quando menos espero, encontro a rotunda da estrada que liga Seia à Torre. Penso que os 5 quilómetros que restam me levam à Torre num instante... mentira... mas nunca mais chego?!?!?!

Eis, por fim, que alcanço o meu objetivo, o primeiro objetivo do dia. Sou recebida por um amigo canino com quem partilho a minha sandes do almoço. Feliz, não guardo apenas para mim a felicidade. As novas tecnologias permitem-me telefonar, enviar mensagens desde o ponto mais alto de Portugal Continental. Falta agora o segundo objetivo: chegar à Guarda.



O mais fácil vem aí. Acredito que somos sempre compensados pelo que sofremos. Uns tantos quilómetros sempre a descer, estou em Manteigas. Outros tantos e chego a Valhelhas, avisto umas asas no ar, penso que chegou finalmente a oportunidade de fazer novo bilugar, desta vez na Serra da Estrela, mas o amigo Paulo Coelho já estava nas arrumações.

O que parece ser menos difícil, não o é. A partir de Famalicão da Serra o esforço foi redobrado. Chego a Vale de Estrela, com a noção de um mais uma conquista feita. Passo pelo centro da cidade mais alta, mais uns poucos quilómetros a descer e estou em casa. Finalmente.

Vale a pena experimentar, vale a pena arriscar, mesmo que pareça inalcançável. Se alguém nos deu a oportunidade de viver, então façamos dela uma estadia única. Que o arrependimento chegue, apenas pelo que não foi feito. Haverá sempre falhas, corremos sempre riscos, mas nada acontece por acaso. Por mais difícil que seja entender, há sempre uma explicação. Viver e aprender.
Carpe diem.